*Por Raissa Alexandra Mariani - Discente da 6ª fase do Curso de Graduação em Relações Internacionais pela Universidade do Sul de Santa Catarina (UNISUL).
Tive este artigo meu originalmente publicado pelo Jornal Universitário de Relações Internacionais (JURI) em 05/07/2006, projeto na época do Curso de Graduação em Relações Internacionais pela Universidade do Sul de Santa Catarina (UNISUL).
Hoje, prestes a me formar, revivo e revejo as ânsias, (pre)conceitos e concepções, idéias, realismo e idealismo. A crítica que procurava sucitar dizia, senão principalmente, também respeito à governabilidade conduzida até os dias atuais; embora os avanços fossem consideráveis, o mérito da democratização em si é questionável, uma vez que as instituições democráticas funcionam apenas formalmente e não como supostamente deveriam, alicerçadas nas teorias políticas clássicas (em favor da população, de forma proativa). De que modo, analisando a trajetória brasileira, economia e política foram e permanecem sendo conduzidas?
Em que grau a corrupção infiltrou-se em nosso cotidiano? Ao menos a um pequeno consenso, sem dúvida, pode-se chegar: Em momento algum, na história brasileira, fora cultivada a lógica da sustentabilidade, o pensamento de um desenvolvimento acrescido de manutenção e humanização. Como é possível ainda pensar, na vigência do século XXI, em modernização e internacionalização despidas de planejamento e de estruturas capacitadoras, instrumentos e processos sustentáveis? Ademais, como conter e ordenar os avanços globais sem que haja justiça social, sem que exista a mencionada educação abaixo descrita? Eis o artigo:
Parafraseando o renomado antropólogo brasileiro Roberto da Matta (1984) em livro de mesmo título, "o que faz o brasil, Brasil"? De que maneira este é percebido pela sociedade, e qual postura é por ela assumida frente ao exposto?
Os meios de comunicação vêm tentando cumprir funções essenciais à formação de um senso crítico comum - denunciar, alertar e informar a população a respeito dos mais diversos aspectos da nação. Embora esses mesmos meios façam, inúmeras vezes, uso da parcialidade e do sensacionalismo, invadindo a esfera pessoal em busca de informações, a verdade está escancarada: A criminalidade e a impunidade, a corrupção, o preconceito e a desigualdade social encontram-se difundidos em todos os níveis sociais. Trata-se de uma questão universal: A dignidade humana é agora reduzida a uma incógnita - não apenas não se sabe mais ao certo a maneira de restaurá-la definitivamente, como também, gerando imensa preocupação, não existem firmes iniciativas para tanto.
Sob certa ótica mundial, ser brasileiro é trazer alegria estampada no rosto - significa possuir a capacidade de conservar-se sereno diante e independentemente das dificuldades: O brasileiro é aquele que tudo suporta e que em tudo crê. É por detrás deste estereótipo de força, porém, que se esconde, enraizado, o verdadeiro perigo e ameaça nacional: O conformismo. De acordo com o filósofo alemão Erich Fromm (1956), o ser humano em geral não possui consciência do quanto necessita conformar-se: "Vive sob a ilusão de seguir suas próprias idéias e inclinações, de ser individualista, de ter chegado a suas opiniões como resultado de seus próprios pensamentos – apenas acontecendo que suas idéias são as mesmas da maioria".
Surge, então, algumas das possíveis variáveis do conformismo: A visão individualista e egoísta, a face de vida centrada no ser (e, posteriormente, no ter) – é preciso ser e ser agora, neste exato momento. No individualismo exacerbado e extremista de cada um, não se oferece a devida atenção ao que ocorre ao redor: 'Enquanto não me atinge diretamente, não me preocupo – nunca serei alvo de qualquer atrocidade; não preciso, portanto, sentir-me incomodado ou tocado pela vida alheia'. Segundo essa lógica distorcida, lutar ou acreditar em ideais considerados "minoritários" configuram causa excludente - e fugir da exclusão, de certa maneira, é ato inerente ao ser humano - embora seja exatamente ela, paradoxalmente, a resultante dessa postura individualista.
O egoísmo pode ainda remeter ao hedonismo, no sentido mais restrito do conceito: A sociedade brasileira cultua os "prazeres" imediatos, efêmeros; através de um pensamento e da adoção de políticas de curto prazo, o brasileiro permanece preso na trama da comodidade, onde as circunstâncias favoráveis ou comumente satisfatórias são suficientes para que se continue "prosseguindo com a vida". A partir do momento em que não existem mais alternativas disponíveis, o "jeitinho brasileiro" vem à tona – a malandragem, a desonestidade, a corrupção, a busca pela vida fácil e pela segurança distorcida, a intolerância e a imprevidência... Justificativas para explicar esse "jeitinho" são o que não faltam, principalmente no âmbito da antropologia, e devem, sim, ser cuidadosamente estudadas e consideradas. No Brasil, contudo, é inegável que parece ser tão mais simples, demasiadamente tão mais fácil seguir o exemplo do extraviado, justamente por aparentar ser o mais abundante.
Ainda segundo Fromm (1956), "o indivíduo é introduzido no padrão conformista com a idade de três ou quatro anos, e daí por diante nunca perde o contato com o rebanho". É em tal fato que reside a importância da educação: Não o mero ensino, que preenche poucas lacunas e abre brechas para tamanhas falhas; mas, sim, a forma de educação que acompanha a criança desde a tenra idade, em seu despertar até a hora de novamente adormecer. Um sistema educativo capaz de apontar à criança, futuro cidadão, um universo de valores e de possibilidades; que nutra-a com cultura, aguçando seus sentidos; a educação que constitua seu caráter, ensinando-a a pensar e agir por conta própria, assumindo assim, acima de tudo, a responsabilidade por e a repercussão de seus atos.
É justamente de tal educação que o Brasil carece, que ao seu povo é diariamente negligenciada: Aquela que nos ensinará a reconhecer o que desejamos ser enquanto nação, por estímulo incansável e respeito mútuo, reflexo do reconhecimento de nossos direitos e deveres; a ciência de que a corrente conformista pode, sim, ser rompida, caso não se faça cego e se resista às mudanças – caso não apenas se busquem oportunidades, mas, sim, as criem, reivindicando com garra e determinação. A consciência, enfim, de que o brasileiro pode ser senhor de seu próprio destino, alguém que não precisa atribuir o título de "salvador da pátria" a outrem a cada quatro anos. Adversidades ocorrem e certamente continuarão ocorrendo sob os mais diversos graus e formas... Mas permaneceremos livres em nossos passos, rumando na direção de uma sociedade mais justa, ativa e digna, onde ideais não sejam mais transformados em meros clichés.
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